Segundo o Pontífice, “a consolação autêntica é uma espécie de confirmação de que cumprimos o que Deus quer de nós, que percorremos os seus caminhos, ou seja, nas estradas da vida, da alegria, da paz”. Ao continuar sua meditação sobre o tema, o Santo Padre recordou uma passagem dos Exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola. “Reza assim: ‘Se nos pensamentos tudo é bom, o princípio, o meio e o fim, e se tudo está orientado para o bem, este é um sinal do anjo bom. Por outro lado, pode ser que no decurso dos pensamentos se apresente algo mau, ou que distraia, ou menos bom do que aquilo que antes a alma se propusera fazer, ou algo que debilite a alma, que a torne inquieta, que a ponha em agitação e lhe tire a paz, a tranquilidade e a calma que antes tinha: então, este é um sinal claro de que tais pensamentos vêm do espírito maligno’.
A oração é uma ajuda para fazer o bem
E o Pontífice sublinhou ainda que há uma verdadeira consolação, mas também existem consolações que não são verdadeiras. “Por isso, é preciso entender bem o percurso da consolação, para onde vai, e para onde me leva, se me leva para algo que não é bom, não é uma consolação boa, não é uma consolação verdadeira, é falsa”.O Papa Francisco prossegue a sua reflexão indagando: “O que significa sobre o princípio estar orientado para o bem? Por exemplo, tenho o pensamento de rezar, e observo que se acompanha do afeto pelo Senhor e pelo próximo, há sempre um convite para se realizar gestos de generosidade, de caridade: significa um bom princípio. No entanto, pode acontecer que aquele pensamento surja para evitar um trabalho ou uma tarefa que me foi confiada: sempre que devo lavar a louça ou limpar a casa, vem-me uma grande vontade de começar a rezar! A oração não é uma fuga dos nossos afazeres; pelo contrário, é uma ajuda para realizar o bem que somos chamados a praticar, aqui e agora. Isto a propósito do bom princípio”.
“Santo Inácio dizia que o princípio, o meio e o fim devem ser bons. O princípio é este: tenho vontade de rezar para não lavar a louça. Então, primeiro, lava a louça e depois vai rezar”, sublinhou o Papa.
Examinar bem o percurso dos próprios sentimentos
Segundo o Papa Francisco, dando continuidade ao exemplo anterior explica que “em seguida há o meio, ou seja, o que vem depois, o que se segue a tal pensamento”. E o Santo Padre sublinhou: “se eu começar a rezar e, como faz o fariseu da parábola tender a agradar a mim mesmo e a desprezar os outros, talvez com um ânimo ressentido e azedo, então estes são sinais de que o espírito maligno utilizou aquele pensamento como chave de acesso para entrar no meu coração e para me transmitir os seus sentimentos.” Ainda de acordo com o Pontífice, esse tipo “de oração termina mal”, pois é uma consolação de rezar para se sentir como um pavão diante de Deus. Este é um meio que não funciona”.
“Depois, há o fim. O fim é um aspecto que já encontramos, ou seja: para onde me leva aquele pensamento?”, perguntou Francisco, dizendo que “pode acontecer que eu trabalhe arduamente por uma obra boa e meritória, mas isto impele-me a deixar de rezar, descubro-me cada vez mais agressivo e zangado, considero que tudo depende de mim, a ponto de perder a confiança em Deus. Evidentemente, aqui há a ação do espírito maligno. Eu começo a rezar e na oração me sinto onipotente. Portanto, examinar bem o percurso dos próprios sentimentos, e o percurso dos bons sentimentos, da consolação a partir do momento que eu quero fazer alguma coisa”, frisou.
Convite a aprender com as experiências
De acordo com o Papa Francisco, “o estilo do inimigo”, do demônio, é o estilo que “consiste em apresentar-se de maneira sorrateira e disfarçada: começa a partir daquilo que nos é mais querido e depois, pouco a pouco, atrai-nos a si: o mal entra secretamente, sem que a pessoa perceba. E, com o passar do tempo, a suavidade torna-se dureza: aquele pensamento revela-se pelo que realmente é”, explica.
O Pontífice continua sua reflexão sublinhando a importância de nos conhecermos, e examinarmos a origem dos nossos pensamentos; é um convite a aprender com as experiências, com o que nos acontece, para não continuar repetindo os mesmos erros. Ainda segundo o Santo Padre,” quanto mais nos conhecemos, mais sentimos por onde entra o espírito maligno, as suas “senhas”, as portas de entrada do nosso coração, que são os pontos onde somos mais sensíveis, de modo a prestar-lhes atenção no futuro. Em cada um de nós há os pontos mais sensíveis, os pontos mais frágeis da própria personalidade e dali entra o maligno e nos leva para a estrada errada, ou nos tira da estrada certa. Quero rezar, mas me distancia da oração.
Fazer o exame de consciência diário
O Pontífice também sublinhou que é importante fazer “o exame de consciência diário: antes de terminar o dia, parar. Se perguntar, o que aconteceu no meu coração? Cresceu ou foi uma estrada na qual passou de tudo? O que aconteceu no meu coração? Trata-se do precioso esforço de reler a experiência sob um ponto de vista particular. É importante compreender o que aconteceu, é sinal de que a graça de Deus age em nós, ajudando-nos a crescer em liberdade e consciência. Não estamos sozinhos, o Espírito Santo está conosco”.
Ao finalizar sua meditação, o Papa Francisco recordou que a “consolação autêntica é uma espécie de confirmação de que cumprimos o que Deus quer de nós, que percorremos os seus caminhos, ou seja, as estradas da vida, da alegria, da paz. Com efeito, o discernimento não é simplesmente sobre o bem, nem sobre o máximo bem possível, mas sobre o que é um bem para mim aqui e agora: é nisto que sou chamado a crescer, colocando limites a outras propostas, atraentes, mas irreais, para não ser enganado na busca do verdadeiro bem”.
E concluiu ressaltando que é preciso aprendermos a ler o livro do coração, refletindo sobre o que aconteceu durante o dia. “Façam isso. São apenas dois minutos, mas garanto a vocês que lhes fará bem”, sublinhou.