Santuário Arquidiocesano

Catedral Cristo Rei

08h
- Missa

10h30
- Missa
15h30
- Missa
Sábado - Terço da Paz

15h

Domingo - Terço da Misericórdia

15h

Artigo de dom walmor

Você está em:

A civilização contemporânea não consegue fazer com que avanços tecnológicos e científicos estejam acompanhados de posturas humanísticas capazes de demolir muros e criar mais pontes entre as pessoas. Constatação alcançada ao observar tantos cenários de guerras e das muitas formas de exclusão social. A realidade dramática vivida por muitos permite enxergar as dimensões demagógicas de cúpulas internacionais, sofisticadas, mas com baixo índice de assertividade na construção de soluções para efetivar a paz no mundo. Os discursos e as propostas ficam repetitivos, estéreis. E o mundo paga alto preço pela sua deterioração social. Ocorre uma inércia moral que neutraliza reações efetivas para resolver graves problemas, fragilizando a participação sociopolítica dos cidadãos no enfrentamento de crises. Verifica-se, por exemplo, falta de união até mesmo para enfrentar uma pandemia - a sociedade brasileira atualmente sofre com a disseminação da dengue.  Mais do que uma alienação política e social, há carência de sensibilidade humanística e espiritual. Essa carência gera incapacidade para diálogos indispensáveis à demolição de “muros” – aqueles que são erguidos em nome de uma proteção ilusória, muitos com “cores de apartheids”, inviabilizando o respeito à dignidade humana, produzindo a má vontade para se adotar novo estilo de vida, necessário para enfrentar os muitos desafios deste tempo.

Apesar dos progressos, a humanidade ainda convive com muitas patologias que, para serem enfrentadas, precisam de diagnósticos mais lúcidos e de remédios assertivos. Dentre as patologias, pode-se citar uma litania de “muros” que se levantam, inviabilizando “pontes”. Não se pode deixar de enfrentar a comum anestesia social que faz crescer a indiferença - uma barreira entre as pessoas. Esse obstáculo gera distanciamentos que prejudicam diálogos, caminhos para a construção de entendimentos essenciais à superação das perdas provocadas pela frieza do “mercado”. O canto de esperança para a queda dos muros pode encontrar força e efetivação na vivência da amizade social - luz que permite reconhecer saídas para diferentes situações violentas, aparentemente insuperáveis. Todos precisam se matricular na academia da amizade social, admitindo novas aprendizagens, particularmente no âmbito da sensibilidade humanística e espiritual.

O saber técnico, o desempenho político e tantas outras habilidades são importantes, mas insuficientes quando consideradas as singularidades da existência humana e as complexidades dos funcionamentos institucionais. Ser aprendiz da amizade social traz novos alentos e sentidos existenciais, alarga o horizonte para cada um se compreender sempre como instrumento e agente do bem e da paz. Capacita o ser humano para ir além do território do seu próprio bem-estar. A escola da amizade social é o lugar onde se aprende a praticar o amor fraterno, superando todo o anseio de eliminar ou querer superar o semelhante.  Viver a amizade social significa cultivar abertura a todos, efetivando a demolição de muros e a edificação de pontes. Para viver essa abertura, é preciso ultrapassar a lógica do mundo das finanças e da economia, desenvolver a competência para não apenas avizinhar-se, mas se reconhecer irmão e irmã de cada pessoa.

O Papa Francisco, na sua Carta Encíclica sobre a amizade social, Fratelli Tutti, adverte sobre o risco de engajar-se em uma luta de todos contra todos, quando a lógica da vitória significa destruir o semelhante. Se prevalecer essa lógica, sublinha o Santo Padre, pensar em um projeto comum para toda a humanidade pode soar como um delírio. Essa impossibilidade é fruto de uma incompetência humanística, pela falta de sabedoria para combater o que está na contramão do bem. É hora, pela amizade social, de nos reconhecermos como comunidade, cada um procurando zelar pelo outro, especialmente pelos pobres. É preciso também cuidar para não silenciar vozes proféticas. Ao invés de silenciar, abrir-se ao que pode levar a humanidade a viver de um modo diferente, sem ameaçar a casa comum. Somente a vivência da amizade social poderá demolir muros e construir pontes. Deus é simples, embora onisciente, onipresente e onipotente. Por isso, a humanidade precisa investir na simplicidade ao configurar novos estilos de vida, para não se afastar da compaixão e da misericórdia que constituem sabedoria única. Uma sabedoria essencial para gerar as transformações almejadas, derrubando muros, edificando pontes.

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

 

Ícone Arquidiocese de BH