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Artigo de dom walmor

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Agradecido, Papa Francisco

Gratidão é o sentimento nobre que reluz dentro do luto vivido pela Igreja Católica com a morte do Papa Francisco. Uma luz alimentada pelas alegrias pascais advindas da ressurreição de Jesus, o único vencedor da morte. Gratidão que fecunda as raízes da “árvore Igreja”, para torná-la, na sua floração e nos seus frutos, servidora e hospitaleira, misericordiosa e dialogal, “em saída”. Papa Francisco, em 12 anos de pontificado, pela singularidade de sua missão, vivida com a marca da simplicidade, enraizou ainda mais a Igreja de Cristo nos sabores do Evangelho. Sua simplicidade no jeito de se vestir, na escolha do lugar onde morar, no estilo de vida e, sobretudo, no modo direto de relacionar-se, ampliou a Igreja como uma grande praça de acolhimento, com lugar para todos. Uma postura simples e acolhedora tendo o amor preferencial pelos pobres, marginalizados e migrantes como cláusula intocável, tornando ainda mais evidentes as normas que orientam a vida dos verdadeiros discípulos e discípulas de Jesus.

Desde o início de sua missão, como sucessor do apóstolo Pedro, bispo de Roma, de modo coerente com as outras etapas de sua vida, Papa Francisco buscou contribuir para realizar o sonho de uma Igreja cada vez mais simples e voltada para os pobres. Tornou-se referência mundial, consagrado como o Papa dos pobres - o Francisco do terceiro milênio. No início de seu pontificado, ao apresentar-se como Francisco, foi além da adoção de um novo nome. Assumiu um programa de vida, compreendendo-a como oblação, especialmente aos pobres. Suas ações contribuíram para fortalecer sempre mais o entendimento de que a dedicação aos pobres é comprovação de fidelidade ao Evangelho, possibilitando ao ser humano inserir-se na missão de Cristo. A vivência da fé cristã exige a coragem profética de estar com os pobres, ao lado deles. E a coragem profética do Papa Francisco continuará a interpelar, podendo incomodar alguns, mas sem a possibilidade de retrocessos. Foi o próprio Jesus que ensinou: tudo o que se fizer aos pobres, a Ele se está fazendo.

Francisco, sempre olhando a vida a partir dos pobres, tornou-se reconhecido arauto da paz mundial, lamentavelmente não ouvido por poderosos que permanecem arraigados nos seus propósitos de dominação. Pessoas que apostam em forças bélicas, promovem a destruição de vidas, alimentam guerras. Tantas vezes o Papa Francisco alertou que o mundo vive uma “terceira guerra mundial – uma guerra em pedaços”. Seu pontificado intensificou singularmente o diálogo da Igreja com o mundo contemporâneo, tão plural, inspirando o desafio missionário, exigente, de marcar a sociedade com o sabor do Evangelho. Não foram poucas as incompreensões enfrentadas pelo Papa Francisco, expressas nos ataques dos que preferem a Igreja confinada nas sacristias. O Pontífice exerceu com fidelidade a sua missão. Um caminho que confirmou o compromisso evangélico da Igreja com a casa comum, atitude daqueles que verdadeiramente respeitam Deus - o Criador de todas as coisas. Inaugurou, assim, um ciclo novo de profecias e indicações concretas no horizonte da ecologia integral por meio de ensinamentos e argumentações clarividentes e interpelativas.

Na sua maestria, o Papa Francisco foi voz forte da Igreja em muitas mesas de debate e de diálogos, sem perder a sua simplicidade e proximidade. Seu jeito de ser sempre foi o diferencial de sua autoridade, com força incidente em diferentes campos - político, cultural, econômico, tecnológico e tantos outros. Francisco emoldurou tudo na essencialidade do Evangelho, sem ostentar poderio, buscando acolher e incluir todas as pessoas. Uma conduta que se contrasta com os formalismos tão presentes no exercício do poder. Por isso, a voz do Papa sempre interpelou desde os poderosos até os mais pobres, conduzindo a Igreja a um tempo novo, ainda não claro para muitos, mas com sendas traçadas nos parâmetros de um novo humanismo, ancorado no tesouro inesgotável dos ensinamentos e da doutrina social da Igreja.

São largos e interpelantes os horizontes desenhados no pontificado de Francisco, guiando a Igreja nos indispensáveis caminhos da sinodalidade, pelas dinâmicas da comunhão e da participação. As heranças de seu pontificado contemplam investimentos em temas muito relevantes, a exemplo do papel participativo e decisório da mulher na Igreja. O vasto e rico ensinamento nascido do magistério oficial de Francisco ajudam a Igreja na busca por respostas novas - capazes de auxiliar a humanidade na construção de um novo tempo. Ao mesmo tempo, sua espontaneidade na convivência com os mais simples, com expressões que se popularizaram, fortaleceram a sua semeadura exitosa no coração de tantos. Suas catequeses balizaram a espiritualidade na configuração moral da conduta cristã, onde não cabem discriminações, preconceitos e exclusões, de nenhum tipo.

Na contramão de posturas hieráticas e faustosas, o Papa Francisco implantou posturas que revelam mais proficuamente o amor de Deus - Deus é simples, como professam os místicos. A simplicidade e a naturalidade de Francisco desconcertaram muita gente pretensiosa e “cheia de si” - pessoas que direcionaram protestos e falas desrespeitosas ao Pontífice. Mas o caminho firmado pelo Papa é sem volta: trata-se de modo eficaz para que a Igreja cumpra com fidelidade a sua missão evangelizadora no mundo, a caminho do reino de Deus.

A diminuição da força física levou a termo o ciclo da vida terrena do Pontífice, como é da ordem natural da condição humana. Ecoam, no entanto, de maneira forte, rompendo o silêncio pétreo da morte, os ensinamentos e os gestos de Francisco, qualificado e exemplar peregrino de esperança, sinal de fecundidade da Igreja, desafiada a continuar a sua peregrinação. Ao avançar em seu caminho, a Igreja se fortalece a partir da lembrança, da fidelidade e do respeito àquele que foi sucessor do Apóstolo Pedro. Por tudo e por tanto, agradecido, Papa Francisco!

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

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