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Mês vocacional: os pastores do rebanho de Deus – artigo de Neuza Silveira

“Apascentai o rebanho de Deus, confiados a vós, cuidai dele, não por obrigação, conforme o que Deus quer; não por interesse vergonhoso, mas de boa vontade; não como dominadores da herança a vós confiada, mas antes, como modelo de rebanho”(1Pd 5,2-3).

O mês de agosto é tradicionalmente reconhecido como o mês vocacional. É um mês do tempo comum dentro do calendário litúrgico anual. Todos nós, cristãos, somos chamados a uma vocação especial na Igreja e a uma missão fundamental no mundo, pois o senhor se utiliza de nós para ser presença na vida do povo. Assim, viver a vocação é viver em resposta a esse chamado de Deus. Cada pessoa recebe seu chamado específico. Um chamado que lhe confere uma identidade pessoal. Daí a busca pela descoberta de sua vocação para realizar a vontade do Pai.

Na primeira semana do mês de agosto celebramos a vocação dos sacerdotes ordenados, chamados à vocação de se colocarem a serviço das comunidades cristãs, povo de Deus. Nesse sentido, vamos estudar e conhecer um pouco mais sobre os sacerdotes, nossos padres espalhados pelo mundo, no exercício de seu ministério.

A Figura do Sacerdote na Bíblia

Em todas as culturas, mesmo nas pagãs, aprece a figura do sacerdote. E sempre com um caráter sagrado, em uma mistura de divino e humano, com uma carga de profetismo e liderança, visto com respeito e temor.

No Antigo testamento, em quase todos os seus livros, considerando a própria característica constitutiva do povo judeu que era a unidade indissociável de povo-religião-nação, falam no sacerdócio judaico. Ainda nesses livros, falam das genealogias dos sacerdotes. Mas há um único caso em que um sacerdote, também rei, aparece sem genealogia, antes mesmo de Aarão, o primeiro e grande sacerdote. Estamos falando de Melquisedec, rei de Salém, e ao mesmo tempo sacerdote.  Trazendo pão e vinho, oferece um sacrifício e abençoa Abrão (Gn 14, 17-20). Ele aparece e desaparece sem deixar sua genealogia (Hb 7).
No Antigo Testamento, Melquisedec é a figura do Sumo Sacerdote do Novo Testamento: Jesus Cristo, aquele que ofereceu um sacrifício maior, oferecendo a si mesmo, instaurando assim a nova Aliança, que supera definitivamente a primeira Aliança de Deus com o povo de Israel. Jesus oferece a Deus tudo o que ele é e faz, para manifestar a seus irmãos o amor de Deus e levá-los a uma vida nova. Ele ofereceu a si mesmo a Deus, como vítima sem mancha, tornando o mediador de uma nova aliança (Hb 9, 11-15). É na carta aos Hebreus que vamos encontrar que Cristo é Sacerdote segundo a Ordem de Melquisedec, isto é, como Melquisedec. Cristo também não teve ascendência humana sacerdotal nem descendência.

Ser mediador entre os homens e Deus é a razão de ser do sacerdote: dirige-se a Deus pelo culto (orações, sacrifícios) em nome dos homens e dirige-se aos homens, falando-lhes em nome de Deus.

Jesus Sacerdote

Jesus não exerceu oficialmente a função sacerdotal ritual do Templo, mas todas as suas atitudes e palavras, em vida, o levou a ser considerado mediador. Na Quinta-Feira Santa, à noite, ele garantiu a continuação, a reatualização do seu ato sacerdotal e redentor: sua morte e ressurreição.

Jesus se tornou e continua sendo o único sacerdote. E todos os outros sacerdotes, desde os Apóstolos até o último sacerdote no mundo, são participantes do sacerdócio de Cristo. Todos os sacerdotes cristãos só o são enquanto participantes do único Sacerdote e Mediador, Jesus Cristo.

É Cristo que se torna assim, a pedra fundamental, a “pedra angular” da sua Construção, que é a Igreja. Nesse sentido, entendemos que a Igreja toda, o Povo de Deus, participa do sacerdócio de Cristo. Como Sacerdote e Mediador, ele é o caminho, a verdade e a vida. Ele veio anunciar o Reino, cujo sinal de realização é a Igreja.

Quando lemos em Mt 28,19: “Ide, pois, e fazei discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-os a observar tudo o que vos mandei. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos”, Jesus está passando àqueles homens o poder sacerdotal na sua expressão mais alta: transformar o pão e o vinho no corpo e no sangue do Senhor. Os apóstolos tornam-se sacerdotes. E esses sucessores de Cristo tiveram como trabalho sair pelo mundo, fundar comunidades e formar inúmeros sucessores de Cristo para o trabalho de anunciar a Palavra de Deus. Vários nomes receberam dos apóstolos: Profetas para anunciar a Palavra; Diáconos para o serviço; Epíscopos para governar as comunidades, e logo escolhiam seus auxiliares, os presbíteros (padres) que recebiam a imposição das mãos. Esta tarefa continua até hoje. E esta é a vocação do cristão: tornar-se discípulo missionário de Cristo e sair para o anúncio. Todos são convidados a adentrar nessa família, a Igreja de Cristo, e fazer sua adesão a Jesus Cristo. A Igreja os acolhe com os sacramentos que os tornam cristãos: Batismo, Crisma e Eucaristia, e os constituem ministros da Palavra de Deus.

Será que nos dias de hoje estão faltando profetas da verdade? E se faltam verdadeiros profetas, não faltam, antes, pessoas que escutem e respondam à sua vocação, tornando-se um discípulo missionário de jesus Cristo?

Ref.: RIBOLA, José, C.SS.R. Os sacramentos trocados em miúdo e a Bíblia Pastoral (Trad. Oficial da CNBB.

Neuza Silveira de Souza. Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.



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