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[Artigo] Somos anunciadores da Palavra – Neuza Silveira

Ao proclamar a Palavra, deixemos que os acontecimentos da vida de Jesus se cruzem com os nossos: sangue e suor, sofrimentos e alegrias, realizações e projetos, tristezas e esperanças. Ao vivenciarmos e compartilharmos o anúncio das promessas do Senhor, possamos ser capazes de ler os sinais de salvação e de manifestação do Senhor na nossa vida e ao nosso redor.

Lembremo-nos das palavras do Evangelho quando João apresenta as Bodas de Caná e Maria, mãe de Jesus, atenta aos acontecimentos diz para Jesus: Filho, o vinho acabou. E olhando para os discípulos diz: faça tudo o que ele vos disser. E nós, também discípulos de Jesus, queremos fazer tudo o que o Senhor nos diz? Os ensinamentos de Jesus são palavras de vida que nos devolve a paz, suscita esperança, mas também nos desinstala, nos convoca sempre para enfrentar os desafios. Sem essa atitude de nossa parte, o anúncio não se propaga, a comunicação não acontece e a Palavra de Deus continua sendo apenas palavras de um livro e não Palavras da vida do Senhor e nossa.

Estar atentos à Palavra do Senhor, escutá-la e colocá-la em prática, esse é o convite que ele fez aos discípulos e continua nos fazendo através das palavras dos Evangelhos. Ele diz “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não dá fruto ele corta, mas todo ramo que dá fruto, ele limpa para que dê mais fruto ainda”. Assim ele age conosco nos ajudando sempre a frutificar sua Palavra no meio do povo. E nos pede: permanecei em mim e eu permaneço em você, pois aquele que permanece em mim e eu nele, esse produz muito fruto.

Todo anúncio de Jesus consiste em levar as pessoas a olharem não somente para si mesmas, mas também para o outro. Assim, quando respondemos positivamente ao plano de Deus em nossa vida, tudo se modifica. Permitindo que sua vontade seja a fonte de nossa realização humana, os acontecimentos na vida cotidiana se tornam mais fáceis.

Anunciar a Palavra de Deus aos outros requer um novo aprendizado e conversão. Antes, a nossa fé crescia em família: fazíamos as experiências das novenas, das festas dos padroeiros, das rezas do terço em famílias. A maioria das famílias assim se comportava e se tornava fácil crer em Cristo. Hoje já não é mais assim. Os costumes mudaram, existe um pluralismo de práticas religiosas, pode se vislumbrar uma verdadeira mudança de época. É uma situação geradora de crises e angústias na vida pessoal, nas instituições e nas várias dimensões da sociedade. As famílias já não transmitem a fé, especialmente para suas crianças.

Essas mudanças nos provocam para sair do comodismo e a viver uma vida cristã mais intensa e atuante. Anunciar Jesus e o seu Reino de maneira clara e convicta.

A sociedade que carregava consigo suas características mais rurais, agora se torna mais urbanizada e o estilo de vida na cidade muda. Também a compreensão da fé e sua prática passam por grandes mudanças. Muitas pessoas não valorizam mais a pertença à determinada religião, de forma ativa. O que se percebe na prática religiosa é uma fé subjetivista fechada em seus próprios raciocínios. A vivência da fé se baseia na busca de autossatisfação causando uma perda do sentido comunitário e do projeto de Jesus. Precisamos encontrar novas formas de evangelização, novas linguagens para o anúncio da palavra. Podemos continuar o anúncio através da nossa prática pastoral, catequética e litúrgica, do que vivenciamos em nossa comunidade, na oração e no confronto dos acontecimentos de nossa vida com a Palavra. O anúncio de nossa parte é fundamental para a Igreja cumprir sua missão de evangelizar.

Neuza Silveira de Souza.

Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte

 



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