Esse tempo é propício para grandes comemorações, mesmo diante de uma realidade de pandemia que nos coloca em situação sofrida, isolada e sem condições de maior convivência com as pessoas. Mas, ao mesmo tempo, podemos direcionar o nosso olhar para outras possibilidades de novas experiências. Talvez, uma delas seja a dedicação de um tempo maior à Palavra de Deus, à Bíblia. Nós, catequistas, podemos utilizar esse tempo para descobrir e saborear a beleza e profundidade dos textos bíblicos e assim dar mais profundidade aos encontros catequéticos.
Podemos nos despertar para o maior conhecimento da ligação entre o Antigo, ou Primeiro Testamento, e o Novo, ou Segundo Testamento, e fazer sentir a beleza, a linguagem poética e alegórica e a mensagem das Escrituras. Para isso é necessário que sempre tomemos a Bíblia na mão. Façamos dela instrumento de nossa prática catequética. Procurar compreender como Deus está em constante Aliança conosco. É Ele que sempre está correndo ao nosso encontro, sem nunca desistir de nós.
Vamos estudar a indicação do livro para este ano, para o mês da Bíblia, e estudá-lo. Já estão prontos para acolher esse estudo dedicado ao Mês da Bíblia? Viram qual é o lema que ele traz? “Todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28d). Esse lema é extraído do próprio livro, na passagem do “hino batismal”, quando Paulo afirma que todos somos filhos e filhas de Deus. É o que aprendemos em nossas catequeses: batizados, somos todos irmãos na fé cristã. Este estudo será uma oportunidade de nos apropriarmos melhor de nossa identidade de fé e de celebrar os 50 anos da realização do “Mês da Bíblia”. Também a oportunidade de nos mantermos conectados, unidos com Deus, firmes na Aliança de Deus conosco.
Acreditamos que sempre estamos em estado de experiência com essa ALIANÇA com Deus. Fazendo memória da caminhada do povo, desde o Antigo Testamento, vemos a riqueza da mensagem e a beleza dos textos que nos levaram a sentir o grande amor de Deus para com seu Povo. Através do simbolismo de um casamento de amor e fidelidade, vimos que ambas as partes, Deus e o Povo, se tornam parceiros no Projeto do Reino.
Hoje, vamos recordar e aprofundar o tema da Aliança desenvolvido no Novo Testamento e, assim, compreender melhor o livro de Gálatas, dirigida às pessoas daquele tempo que se encontravam em momento de conflito no interior da comunidade. Assim, podemos trazer de lá uma nova experiência para nossa realidade atual, momento em que a nossa comunidade também se encontra em situação de conflitos, diante das dificuldades geradas pela pandemia.
A Aliança no Novo Testamento
No Antigo Testamento, a Aliança foi concluída no monte Sinai e selada pelo sangue dos holocaustos (Leiam Ex 24,1-8). Assim, a Nova Aliança é selada pelo sangue de Cristo na Cruz. Cristo é a vítima, o Cordeiro. Esta Aliança é revivida num ritual perpétuo, pela comunidade cristã, em cada Eucaristia (cf. Mt 26,28). A Aliança continua. Cristo é o Esposo da comunidade cristã. S. Paulo assim escreve: “Experimento por vós um zelo semelhante ao de Deus. Desposei-vos a um esposo único, a Cristo, a quem devo apresentar-vos como virgem pura” (2Cr 11,2). Em todas as suas cartas, Paulo aprofunda este mistério e mostra como a comunidade deve viver como “Esposa de Cristo”.
A Aliança nos Evangelhos de Mateus e Lucas
Quando os Evangelhos falam de casamento, banquete, convidados, estão falando daquele matrimônio entre Cristo, o Esposo, e a comunidade cristã, a Esposa.
Podemos ler Mt 9,15; 22,1-10; 25,1-13 e Lc 14,15-23. (Tempo para ler e comentar).
A Aliança no Evangelho de João
As bodas de Caná
No início do Evangelho de João, lemos a conhecida narração das Bodas de Caná. Todos nós a conhecemos, mas poucos entendem sua linguagem simbólica. O texto é uma alusão á imagem do “casamento” de Cristo (o noivo) com a noiva (a comunidade cristã).
Como já vimos, casamento significa a realização do perfeito relacionamento entre Deus e o Povo, as núpcias definitivas.
A mãe de Jesus estava na festa. Ela simboliza o Antigo Testamento e ajudou a fazer a passagem do Antigo para o Novo.
No meio da festa, o vinho se acabou. Então, Jesus mandou encher as talhas com água. A água que está nas talhas de pedra representa a Torá dada no Sinai. A observância das leis da pureza, simbolizada pelos seis potes vazios, tinham esgotado as suas possibilidades. A velha aliança estava vazia. Já não era mais capaz de gerar nova vida. O vinho, que antes era água, simboliza a nova maneira de Deus se apresentar, agora na pessoa de Jesus. (Leiam Jo 2,1-11)
A mulher samaritana
No quarto capítulo do Evangelho de João, na conversa de Jesus com a mulher samaritana, Jesus lhe diz: “Vai e chama o teu marido” (v.16). Ela responde: “Não tenho marido”. E Jesus replica: “Falaste bem, porque já tiveste cinco e o que tens agora não é teu”. Aqui também entra o simbólico. Não se trata de maridos, mas de ídolos adorados pelos samaritanos. Jesus está falando de divindades numa perspectiva da relação de aliança. É como se Jesus dissesse: Vocês já tiveram vários senhores ou maridos, mas agora está diante de vocês o verdadeiro esposo (a mulher representa aqui o povo samaritano).
A Aliança no Apocalipse
O Apocalipse foi escrito numa época em que as comunidades cristãs estavam passando por perseguições e muitas crises. É um tipo de literatura cheia de simbolismos e linguagem misteriosa, mas que tem o propósito de pôr esperança no final vitorioso de Deus.
O livro apresenta as núpcias do Cordeiro no fim dos tempos (cf. Ap 21-22). “Vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a Jerusalém Nova, pronta como uma esposa que se enfeitou para seu marido” (Ap 21,2).
Leiam: Ap. 19,4-9 e cap.21,1-2.9-11.22-27)
Observem quantas vezes se fala de “Cordeiro” e “Esposa”.
Saborear o texto, interiorizar, rezar
Vamos ler Jo 20,1.11-18
O evangelho de João segue, com liberdade, o esquema de busca e encontro da esposa do Cântico dos Cânticos (Ler Ct 3,1-4): impaciência do amor, saída depressa, busca em vão, diálogo com os guardas (anjos), encontro, abraço…
O lugar do encontro com Maria Madalena é um jardim que, além do jardim citado no livro Cântico dos Cânticos (Ct 5,1;7,11-14), se refere ao Paraíso Terrestre.
Os evangelistas sinóticos falam que Jesus foi enterrado num túmulo escavado na rocha. João fala que Jesus foi sepultado num jardim. Com isso, ele faz a ligação entre o Paraíso, o jardim do Cântico dos Cânticos (ler 6,1-3) e a vivência das núpcias de Cristo com sua Igreja.
Maria Madalena reconheceu Jesus quando Ele pronunciou seu nome. É o Esposo que pronuncia com amor o nome de sua amada. O encontro se faz!
Pode-se ver em Maria Madalena a comunidade (esposa) a procura do seu Esposo, no meio das trevas e dificuldades pelas quais as primeiras comunidades passavam.
Lendo todos os textos citados, qual é a mensagem para nós, hoje, pessoalmente, e para nossa comunidade?
Que possamos continuar saboreando os textos lidos e dando nossa resposta pessoal, nos preparando para entrar no “Mês da Bíblia” de coração aberto, relendo a Palavra á luz de Cristo e nos constituindo em uma comunidade onde todos possam ser um só em Cristo Jesus.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano
Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.