A oração nos revigora e nos leva à conversão. O ser humano estabelece com Deus formas variadas de relacionamento e entre elas a oração. Ela é um ato religioso essencial de difícil definição, tão diversas são suas formas e ocasiões. De joelhos, sentado, deitado, de olhos abertos ou fechados, homens e mulheres de culturas diferentes, religiões diversas, procuram entrar em contato com alguma divindade, sentida no íntimo de si ou pressentida no exterior, na natureza, em tudo.
Embora de difícil definição pode-se distinguir nela dois aspectos fundamentais. O primeiro se refere às orações referente a um pedido ou uma súplica, dirigida em geral a Deus. Outro aspecto da oração é quando nos damos conta de que, com ela, podemos nos comunicar com Deus, criar elo, interagir. Nesse sentido a oração é, então, comunhão. Ocorre, de verdade, uma ligação entre o humano e o divino. Ela favorece a elevação da alma para Deus, ou o pedido do que lhe é feito do que é necessário.
Jesus nos ensina que Deus nos criou para a comunhão com ele e com toda a criação. Assim, somos chamados a aprofundarmos nossa experiência de comunhão com Deus e com todo o universo para que possamos cuidar de toda a vida criada.
Esse Jesus de quem falamos é o Cristo, o Messias prometido, anunciado, enviado ao mundo, morto, ressuscitado e acolhido pelo Pai. Ele nos envia seu Espírito, constituindo para nós cristãos o princípio e o fim. O Alfa e o Ômega.
Quando caminhamos com Jesus
Acreditamos, pela nossa fé cristã, que somos todos seres humanos criados à imagem de Deus (Gn 1,26). Se isso é verdade, é natural comunicar-se ou comungar com Deus na oração. Só que não é um caminho tão fácil assim, pois a oração exige de nós um cavar mais profundo até atingir as raízes de seu próprio ser. É no mais íntimo que cada pessoa reza ao Senhor e é no mais profundo da interioridade que se escuta o Senhor. Por isso, a oração, tem como primeira finalidade descentrar aquele que ora para deixar Deus se manifestar mais plenamente. A oração abre caminho para vermos com agudeza nossa natureza divina, dom do Próprio Deus.
Na Quaresma a oração é um exercício especial. No chamado à conversão a resposta vem fundamentada na oração. É preciso recolher-se (Mt 6, 6) para conversar com Deus, “olhos nos olhos” é dar espaço para que a Palavra seja o centro das nossas decisões cruciais sobre o nosso jeito de ser e de viver. Ao fazer nossos pedidos se faz necessário reconhecer sua fragilidade e sua dependência e a necessidade que se tem da ajuda ou da graça de Deus.
Não se diz sim a Deus com uma palavra, mas com a força forjada na descida ao interior profundo de si, alcançado na oração. Desta experiência nasce, em resposta a Deus, um ser humano reconstituído segundo a proposta lançada para transformar a própria vida.
Orar assim supõe o arrependimento e a confissão dos pecados, com o pedido do perdão.
A abertura de si a Deus, concedida pela oração, dirige-se também ao outro bem próximo de nós. A genuína experiência de Deus na oração desperta em nós interesse pelo irmão e irmã, imagens de Deus. E no sentido quaresmal o mais necessitado tem lugar de honra, pois é aviltado em sua dignidade de filho e filha de Deus. A esmola, bom compreendida, chama atenção para isso.
Oração cristã é sempre saída. Quando oramos saímos para Deus e para os nossos irmãos e irmãs, somos Povo de Deus, disposto a trilhar pelo deserto, aprendendo a ser nova humanidade, que ao se encontrar consigo mesma, na vontade de se autocompreender, verá o rosto do Outro e dos outros. A oração cristã nos revela e nos converte ao fato de que somos mais que nós mesmos. A conversão transforma uma vida e faz a pessoa experimentar um novo modo de ser e viver.
Esta é a nossa missão de catequistas. Missão de todos nós que, a cada ano, somos chamados a nos deixar guiar para que a vontade de Deus aconteça na vida das pessoas. Temos Jesus como modelo e as primeiras comunidades, ajudadas pelos apóstolos, como experiências de que caminhar com Jesus faz acontecer o reinado de Deus na terra: viver o amor, a justiça, a alegria, a partilha, fraternidade e esperança. Assim como as primeiras comunidades, vamos refletir e descobrir a mensagem que a Palavra nos oferece; meditá-la no coração e dar a resposta de nossa fé, transmitindo essa mensagem aos outros.
Neuza Silveira de Souza. Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-catequético de Belo Horizonte.