Falar da interação fé e vida é buscar na ação catequética a mútua influência entre o anúncio da Boa Nova e/ou formulações da fé e da vida concreta das pessoas. A fé é considerada uma luz que ilumina e dá sentido à vida, portanto, entre fé e vida, entre Eu e Cristo, deve haver uma integração, uma interligação.
Percorrendo o caminho proposto do documento “Catequese Renovada”, que nos orienta para a importância de realizar uma formação catequética voltada para a vida, para o encontro pessoal com a pessoa de Jesus Cristo, esta interação se faz necessária. É um modelo catequético de inter-ação, ou seja, um relacionamento mútuo e eficaz entre a experiência de vida e a formulação da fé, entre a vivência atual e o dado da Tradição. Para uma verdadeira catequese não basta planejar um bom andamento de um conjunto de temas, mas de promover a integração da caminhada da comunidade cristã com a mensagem evangélica.
Mais do que um modelo ou método, trata-se de um princípio que, para além da educação da fé e vida; para além da motivação pastoral e pedagógica, a catequese traz consigo as motivações teológicas. A teologia da revelação nos mostra que a autocomunicação de Deus aos homens, por condescendência do próprio Deus, realizou-se por dentro da vivência humana, pessoal e comunitária do povo de Israel e dos primeiros cristãos. A própria pessoa do Verbo de Deus, para realizar o desígnio da salvação, encarnou-se, tomou forma humana, assumiu a nossa história
Falar da ‘interação fé e vida’ é falar da encarnação: O Verbo encarnou-se e assumiu a nossa história. Assim podemos compreender que:
Da parte de Deus, Ele manifesta hoje, como na revelação bíblica, dentro da nossa realidade e da nossa vida. Essa compreensão nos leva a refletir que a Palavra de Deus anunciada hoje, na catequese, também deve estar dentro da nossa história. O fundamento para descobrir a presença de Deus agindo hoje em nossa história é sempre revelação divina contida na Bíblia e lida não só com o coração da Igreja (CR 86), mas também a partir da existência (CR 176).
Da parte do homem significa que a fé, uma vez aceita como resposta à Palavra de Deus, deve iluminar a vida. Além disso, os problemas existenciais devem ser resolvidos a sua luz da Palavra, tanto em nível pessoal quanto social, ou seja, a fé deve ser transformadora.
Uma fé transformadora porque a catequese possibilita uma interação entre a fé e a vida que leva a um relacionamento eficaz e produtivo. A força da Palavra de Deus e da fé, diante das realidades pessoais e sociais, produz frutos de crescimento pessoal e comunitário, individual e social. Nesse sentido, ocorrerá uma verdadeira experiência de Deus.
Falando de “Encarnação”, mistério da nossa fé, nos faz olhar para o hoje do nosso chão, da nossa realidade e de bem nos prepararmos para a espera daquele que “veio, vem e virá para sempre em nossos corações, o Jesus que é o mesmo de ontem, hoje e sempre (Hb 13,8).
Hoje, o grande desinteresse do homem sobre Deus causa danos à apresentação de Jesus Cristo, porque arrancada da terra mãe de Deus, torna-se impossível conhecer e penetrar seu mistério.
Que neste ano, e cada ano vindouro, possamos celebrar a festa do nascimento de Cristo em Belém da Judéia, no dia 25 de dezembro, uma festa que faz parte do nosso calendário cristão desde os anos 336 e que vem suplantar o culto ao sol, símbolo da luta pagã contra o cristianismo. Ajudando os fiéis a saírem dessas celebrações idolátricas, a Igreja de Roma deu a estas festas pagãs um significado diferente, apresentando uma temática bíblica e mostrando aos cristãos o nascimento do verdadeiro sol: Cristo que apareceu com sua luz brilhante para iluminar o mundo e nos ensinar a viver no Reino de Deus. Encarnou-se e nos remiu de todo o pecado do mundo.
O evento da sua encarnação e do seu nascimento, é “manifestação”, é “Palavra” que se torna mais clara e articulada hoje com a sua própria explicação e significado da sua vinda na história e o envio do Espírito. Quando esse mistério se torna a nós conhecido e comunicado, Deus cura o mundo através de seu Filho.
Compreendendo o que nos é revelado no Natal, esse Deus que se faz um de nós e nos convocam a amar a todos assim como ele nos ama, precisamos tomar atitudes, renascer para o novo jeito de amar, de acolher, de olhar para as realidades presentes e colaborar para que aconteça o amor, a justiça e a solidariedade entre todos.
Este é o sentido de celebrar o Natal. A cada ano, ajustar a nossa vida à proposta de Jesus. Fazer uma avaliação da caminhada de fé e retomar o caminho. Que como Maria, possamos dizer: “A minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu salvador” (Lc 1,47)
Que neste Natal Jesus nasça no coração de todas as pessoas. Ele que se aproxima de nós na mansidão de uma criança, também se aconchega no coração das crianças, dos jovens e de toda a humanidade. Basta dizer SIM. Ele é merecedor de toda nossa honra e glória. Que possamos a cada dia deixá-lo se manifestar através de nossas atitudes e ações. Vamos brindar e se alegrar com ele unindo-nos uns aos outros, acolhendo e partilhando vidas. Vamos visitar os presépios que é para nós um convite à contemplação. Suas imagens nos transportam para aquele dia em que ele veio se encarnar e fazer morada em nossos corações. Fazer o presépio a cada ano é abrir a porta para Jesus entrar e torná-lo próximo à nossa vida.
Fortalecidos no Espírito missionário, sejamos todos anunciadores de sua mensagem.
Neuza Silveira de Souza.
Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-catequético de Belo Horizonte.