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[Artigo] Natal – Experiência de Interação fé e vida – Neuza Silveira – Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético

Falar da interação fé e vida é buscar na ação catequética a mútua influência entre o anúncio da Boa-Nova e/ou formulações da fé e a vida concreta dos catequizandos.  A fé é considerada uma luz que ilumina e dá sentido à vida, portanto, entre fé e vida, entre Eu e Cristo, deve haver uma integração. Continuando o percurso da caminhada da vida, sempre em contínuo processo transformador, a cada ano renovamos nossas experiências, subimos mais um degrau na vivência da fé.

A cada ano, a Igreja celebra o mistério de Cristo da encarnação ao dia de Pentecostes e à espera da vinda do Senhor. Esses acontecimentos celebrativos reproduzem em nós a vida e a imagem do Filho de Deus transformando-nos no próprio mistério que celebramos.

Na dimensão evangelizadora da Igreja, a catequese, preocupada com o ser humano, com seus interlocutores, sujeitos da ação, toma-os em sua situação concreta, para juntos fazer o caminho de fé proposto pela Igreja, pois para uma verdadeira catequese não basta planejar um bom andamento de um conjunto de temas, mas de promover a integração da caminhada da comunidade cristã com a mensagem evangélica.

Falar do princípio de interação fé e vida, para além da motivação pastoral e pedagógica, ela traz consigo as motivações teológicas. A teologia da revelação nos mostra que a autocomunicação de Deus aos homens, por condescendência do próprio Deus, realizou-se por dentro da vivência humana, pessoal e comunitária do povo de Israel e dos primeiros cristãos. A própria pessoa do Verbo de Deus, para realizar o desígnio da salvação, encarnou-se, tomou forma humana, assumiu a nossa história.

Este é o tempo que somos chamados a experimentar. Iniciar esse novo Ano Litúrgico a caminho do Natal para renovar a nossa vida, na vida daquele que chega, apropriando-se do Mistério da Encarnação. Mas para bem celebrar o Natal, antes precisamos nos preparar fazendo a experiência do Tempo do Advento, tempo de conversão e espera, que nos alegra e nos transforma, tornando-nos mais próximos de Deus. Fé e vida em interação, em interrelação com Deus e com o próximo.

Compreendendo o sentido da encarnação: O Verbo encarnou-se e assumiu a nossa história, podemos compreender que:

  • Da parte de Deus, ele manifesta hoje, como na revelação bíblica, bem por dentro de nossa realidade, de nossa vida. Essa compreensão nos leva a refletir que a Palavra de Deus anunciada hoje, na catequese, também deve estar bem por dentro da nossa história. O fundamento para descobrir a presença de Deus agindo hoje em nossa história é sempre revelação divina contida na Bíblia e lida não só com o coração da Igreja (CR 86), mas também a partir da existência (CR 176).
  • Da parte do homem significa que a fé, uma vez aceita como resposta à Palavra de Deus, deve iluminar a vida e, à sua luz, devem ser resolvidos os problemas existenciais tanto em nível pessoal quanto social, ou seja, deve ser uma fé transformadora.

Uma fé transformadora porque a catequese possibilita uma interação entre a fé a vida que leva a um relacionamento eficaz e produtivo. A força da Palavra de Deus e da fé, diante das realidades pessoais e sociais produz frutos de crescimento pessoal e comunitário, individual e social. Nesse sentido ocorrerá uma verdadeira experiência de Deus.

Falar de “Encarnação”, mistério da nossa fé, nos faz olhar para o hoje do nosso chão, da nossa realidade e nos convoca para estar de prontidão e esperar aquele que “veio, vem e virá para sempre em nossos corações, o Jesus que é o mesmo de ontem, hoje e sempre (Hb 13,8).

Que neste ano, e cada ano vindouro, possamos celebrar a festa do nascimento de Cristo em Belém da Judéia, no dia 25 de dezembro, uma festa que faz parte do nosso calendário cristão desde os anos 336 e que vem suplantar o culto ao sol, símbolo da luta pagã contra o cristianismo. Ajudando os fiéis a saírem dessas celebrações idolátricas, a Igreja de Roma deu a estas festas pagãs um significado diferente, apresentando uma temática bíblica e mostrando aos cristãos o nascimento do verdadeiro sol que é Cristo que apareceu com sua luz brilhante para iluminar o mundo e nos ensinar a viver no Reino de Deus. Encarnou-se e nos remiu de todo o pecado do mundo.

O evento da sua encarnação e do seu nascimento, é “manifestação”, é “Palavra” que se torna mais clara e articulada hoje com a sua própria explicação e significado da sua vinda na história e o envio do Espírito. Quando esse mistério se torna a nós conhecido e comunicado, Deus cura o mundo através de seu Filho.

Com a participação ativa nas celebrações do Natal vamos constituindo o tempo da atuação das promessas feitas. Compreendendo o que nos é revelado no Natal, esse Deus
que se faz um de nós e nos convocam a amar a todos assim como ele nos ama, precisamos tomar atitudes, renascer para novo jeito de amar, de acolher, de olhar para as realidades presentes e colaborar para que aconteça o amor, a justiça e a solidariedade entre todos.

Este é o sentido de celebrar o Natal. A cada ano, ajustar a nossa vida à proposta de Jesus. Fazer uma avaliação da caminhada de fé e retomar o caminho. Que como Maria, possamos dizer: “A minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu salvador” (Lc 1,47).

Que neste Natal Jesus nasça no coração de todas as pessoas. Ele que se aproxima de nós na mansidão de uma criança, também se aconchega no coração das crianças, dos jovens, futuro da nossa Igreja, e de toda a humanidade. Basta dizer SIM.

Que o Natal seja verdadeiramente uma data, uma festa para comemorarmos o aniversário da presença constante de Jesus nos nossos corações. Ele é merecedor de toda nossa honra e glória. Que possamos a cada dia deixá-lo se manifestar através de nossas atitudes e ações. Vamos brindar com o aniversariante e se alegrar com ele unindo-nos uns aos outros, acolhendo e partilhando vidas.

Fortalecidos no Espírito missionário, sejamos todos anunciadores de sua mensagem.

Neuza Silveira de Souza. Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.

 

*Fonte:

AUGUSTO BERGAMINI. Cristo, Festa da Igreja.

LUIZ ALVES DE LIMA: Interação fé e vida. In: Dicionário de Catequética.

 

 

 



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