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[Artigo] A missão de Jesus e sua prática misericordiosa – Neuza Silveira 

Jesus inicia sua missão por volta dos anos 30 dC, na cidade de Cafarnaum, localizada na margem norte do Mar da Galileia. Lá ele encontrou seus amigos, pescadores e fez a eles  o convite para ser pescadores de homens. Cafarnaun foi o centro do ministério de Jesus (Mt. 9:1–2; Mc. 2:1–5). Foi um importante centro de pesca e comércio, onde habitavam tanto gentios quanto judeus.

Ao iniciar seu ministério, Jesus recebeu do Pai a missão de revelar o mistério do amor divino na sua plenitude. E foi o que Ele sempre fez durante todo o seu ministério.

O seu relacionamento com as pessoas que se aproximavlm dele manifesta algo de único, maravilhoso. Os sinais que realiza, sobretudo com os pecadores, as pessoas pobres, marginalizadas, acontecem na profundidade da sua misericórdia. Diz o Papa Francisco que “…tudo acontece em uma realidade concreta, na qual se realiza o verdadeiro amor de Deus, um amor visceral. Um amor que provém do íntimo, como um sentimento profundo, natural, feito de ternura e compaixão, de indulgência e perdão”. A pessoa de Jesus é expressão do grande amor do Pai, amor gratuito.

Todo esse amor tornou-se visível e palpável em toda a vida de Jesus. Tudo nele fala de misericórdia. O seu agir foi cheio de misericórdia. E Ele nos convida a sempre viver de misericórdia e a agir com misericórdia com todos. E isto porque, primeiro, foi usada a misericórdia conosco. Jesus nos colocou a misericórdia como um ideal de vida e como critério de credibilidade para a nossa fé: “Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7). Assim é Deus para conosco. Ele deseja o nosso bem e quer ver-nos felizes, cheio de alegria. Nesse sentido, somos também chamados e orientados para viver essa misericórdia sendo misericordiosos uns com os outros.

O que podemos afirmar ser “misericórdia”. Ela é um sentimento de compaixão. É uma palavra de origem latina, formada pela junção de miserere (ter compaixão), e cordis (coração). Ter compaixão no coração. Ter compaixão significa um coração capaz de sentir aquilo que a outra pessoa sente. Assim, praticar a misericórdia é ser capaz de colocar o coração na miséria do outro e, juntos, compartilhar da mesma dor.

Há uma urgência de anunciar e testemunhar a misericórdia no mundo de hoje. Nesses novos tempos, como Igreja, somos comprometidos com sua evangelização e o fazer ecoar da Palavra de Deus. 

Alimentamo-nos da prática misericordiosa de Jesus, de forma intensa, nos textos dos Evangelhos. As leituras apresentadas na liturgia, como, por exemplo, em Mateus 20, 17s nos mostram que estamos em uma caminhada rumo a Jerusalém e à Páscoa do Senhor, seguindo Jesus.

Seguir Jesus não é fácil. Resistimos, fugimos dos nossos compromissos, mas Jesus não descuida de nós. De vez em quando ele está a nos chamar para uma revisão dos nossos erros, das nossas atitudes. Pede para não deixarmos para depois, porque pode ser tarde demais. Isto porque, na nossa caminhada rumo à eternidade prometida, depois que ultrapassarmos as muralhas que a separa desse nosso caminhar, já não teremos mais como refazer o nosso jeito como fomos na vinha do Senhor.

Mas enquanto estamos aqui, Jesus não se descuida de nós. Está sempre a nos alertar para a obediência às leis e na observância dos ensinamentos de Deus, obedecendo àqueles que conhecem as leis. Porém destaca que obedecer às leis não significa fazer as coisas que os entendidos da lei fazem. Muitas vezes suas ações e atitudes não conferem com o que dizem. Esses ensinamentos muito nos ajudam hoje para o discernimento de nossas próprias atitudes.

Encontramos em um caminho cheio de dificuldades e sofrimentos, mas os espinhos são resultados do compromisso com a promoção da vida.

Quando olhamos para o mundo com os olhos de Jesus, passamos a perceber que as exigências da vida cristã nos chegam com mais leveza, pois passamos a realizá-las com o mesmo amor que Jesus realizou seus ensinamentos. Da mesma forma que Jesus encontro no Abba (paizinho querido) uma fonte inesgotável de amor e de sentido, porque colocava todas as suas ações voltadas para o projeto salvífico do Pai, assim também nós podemos colocar Jesus mais próximo de nós, procurando ser exemplo “ao vivo” de seguidor de Jesus Cristo. Uma pessoa comprometida com a prática da vida cristã. Ser alguém íntegro, justo, solidário, de bem com a vida, alegre, cuidador da dignidade da vida e participante da vida concreta de sua comunidade de fé.

Na prática dessa vivência fazemos a experiência do amor de Deus. Uma experiência que nos leva para o conhecimento de Deus, para ser iniciado no “Mistério”. A gente só se conhece quando se reconhece amado. 

Deus nos amou primeiro. E a experiência de ser amado por Deus modifica a vida. Todo esse amor de Deus foi plenamente revelado em Jesus Cristo. E todos nós somos chamados a fazer essa experiência de amor com Jesus para, na prática de nossa missão, promover o Encontro com aquele que é a verdadeira alegria da nossa vida. A missão é o critério para verificar a verdade dessa experiência, uma vez que a missão emana da experiência profunda do Amor de Deus.

Como diz a primeira carta de São João: “Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus”. Quem não ama, não chegou a conhecer Deus, pois Deus é amor (1Jo 4,7-8). Deus é amor e podemos conhecê-lo na prática do amor. E quem nos ajuda a viver esse amor é Jesus Cristo. Portanto, não nos descuidemos desse mundo. A vinha criada por Deus nos foi dada para ser cuidada até que o Filho de Deus, herdeiro do Pai, não chegue. Quando ele chegar, temos de lhe prestar contas de tudo o que produzimos.

Neuza Silveira de Souza. Coord. do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-catequético de Belo Horizonte. 



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