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[Artigo] A Bíblia nas mãos e na vida do povo – Neuza Silveira

Depois de renovadas as nossas vocações, a Igreja nos convida para dedicarmos mais às experiências da escuta da Palavra de Deus. A Bíblia deve fazer parte do nosso cotidiano, que tem um mês especial para celebrarmos e assim como Jesus ao lê-la poder dizer nas palavras do profeta Isaias, capítulo 61, versículos 1 e 2: “o Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu. Enviou-me para levar a boa nova aos pobres, para curar os de coração quebrantado, proclamar aos cativos a libertação, aos encarcerados a liberdade; para proclamar o ano da graça do Senhor”.

Impelido pelo Espírito do Senhor, o profeta anuncia a libertação e a reconstrução do Templo para uma nova vida. Assim também Jesus se reconhece nessas palavras o cumprimento da ação de Deus e, pelo mesmo Espírito, é enviado em missão. Inicia-se assim, sua caminhada missionária, pela força da Palavra.

Também nós, batizados em Cristo, somos renovados, somos novas criaturas chamadas a proclamar a Palavra, à luz do Espírito do Ressuscitado. Lembremos a parábola do Semeador e preparemos nossos corações para que, sendo terra boa, possa ouvir a palavra e entender melhor, levando-a a produzir bons frutos (Mt 13,18-23).

Neste mês da Bíblia, vamos gastar um pouco mais do nosso tempo para melhor conhecer a Bíblia e aprofundar no sentido que a Palavra de Deus traz para nossa vida. Fazendo a experiência do estudo do livro da bíblia indicado para a reflexão, nesse mês (carta aos Efésios), com o seu lema: “Vestir-se da nova humanidade!” (Ef 4,24), uma exortação da própria carta, na qual o autor apresenta a todos os batizados em que consiste assumir a vida nova após a adesão ao Cristo e ao batismo, sobretudo em um contexto não cristão, onde viviam os destinatários da carta.

Trazendo para os nossos dias, diante de uma realidade marcada por um pluralismo religioso de diversas crenças e práticas religiosas, a exortação da carta nos traz uma veste bem da atualidade podendo utilizá-la no contexto atual. Assim, vamos olhar para além de nós mesmo para entender a extensão do que a carta quer dizer hoje. Como está a nossa vida de comunidade? Estamos vivendo conforme as orientações da Palavra de Deus? Estamos compreendendo o que é viver na liberdade e fraternidade? Entendemos o significado do nosso batismo quando nos traz a certeza de que somos revestidos de uma nova humanidade? Vamos rezar essa carta aos efésios e acolher seus ensinamentos, para bem celebrar o mês da Bíblia.

O que é a Bíblia?

Vamos conhecer um pouco o que nos conta a Bíblia. Saber das suas histórias verdadeiras ou das verdades de suas histórias.

A Bíblia é um livro da caminhada do povo de Deus que deixou sua experiência de vida retratada em livro para manter viva a memória de um povo que acreditou, sempre esperou e foi atendido no tempo certo por seu Deus. O povo mostra a história de Israel, a qual foi entendida, pelo próprio Israel, como história do agir de Deus com seu povo. No Antigo Testamento, a Palavra de Deus chegou a Abraão, a Moisés aos profetas. Palavras de Ânimo e de esperança. Palavras de Vida. Palavras de Aliança e de Amizade. Palavra que prepara o maior acontecimento de todos os tempos: Jesus Cristo. No Novo Testamento, os ensinamentos de Jesus tiveram início com a oralidade, e depois, passando para os escritos, a Palavra de Deus teve seu crescimento paulatinamente. Foi chamado, certa vez de “o livro que cresceu durante mil anos”. Seus escritos eram para lembrar ao povo de seu tempo e a nós, hoje, qual o projeto de Deus para a humanidade. Esse Deus que desejou se dar a conhecer a nós e se deu fazendo-se um de nós, nascendo do útero de uma mulher, crescendo no meio do povo e, junto com o povo, ajudando-os a conhecer o Pai.

A Palavra de Deus na vida do homem

A Bíblia, também conhecida como “Sagradas Escrituras” ou tão somente “Escrituras” fala do agir de Deus em nossa vida. Utilizou-se de várias formas: orações, rituais, história, sabedoria, exortações e até mesmo poesia… tudo em grande harmonia – já que inspirada por Deus – relaciona o homem com o único e verdadeiro Deus, e vice-versa. Nessa relação, onde Deus se comunica com o povo, e este o descobre nos acontecimentos da vida, faz chegar até nós esse livro que nos fala da aliança e o plano de salvação de Deus para com a humanidade.

Muitas pessoas contribuíram para que esta palavra chegasse até nós: homens, mulheres, jovens, idosos, pais, mães, agricultores, pescadores, sacerdotes, reis, profetas. A preocupação dos que escreveram não foi contar uma história, mas recuperar a memória, a identidade. Seus escritos trazem uma grande riqueza de experiências que contribuem para manter viva a fé no Deus que propõe justiça, fraternidade, amor e fidelidade.

Ao ler a Bíblia, não se deve preocupar com a busca de uma história verdadeira, mas a verdade da história, da minha história, de todas as histórias. A história é o veículo, o lugar do conhecimento de Deus. Este Deus que, no seu dinamismo, impulsiona os homens e o mundo ao seu destino verdadeiro. Este Deus que nos impele para a realização, para a aceitação, para a doação. E nós, seres humanos, somos chamados a responder, por ações e atitudes a este apelo de Deus.

No Antigo Testamento, o centro da religião é a obediência cujo fundamento se encontra na aliança de Javé com Israel. Exemplos dessa obediência podem ver em Abraão. Javé disse: “Deixa teu país, tua parentela e a casa de teu Pai…” Abrão toma sua mulher Sarai e partem para a terra de Canaã (Gn 12,1-5), na certeza de que seu Deus caminha junto com ele.

No Novo Testamento, o centro da Religião é o seguimento a Jesus Cristo. Toda a história de Deus com Israel tem importância para nós cristãos uma vez que Deus se revela nela. Na revelação do projeto de Deus, a Ressurreição foi o selo que Deus colocou sobre a vida e a morte de Jesus, dizendo que o modo como ele viveu é a proposta de Deus para todas as pessoas.

Vamos continuar conversando sobre a Bíblia.

Neuza Silveira de Souza.

Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.



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